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Zé Tacinho

Muito Além do Empreendedor

    Quando comecei a conviver e conhecer um pouco sobre a vida de Zé Tacinho, entendi que esse livro deveria conter muito mais do que as realizações do empreendedor que são perceptíveis facilmente na sua trajetória de homem de negócios, consolidada na dimensão e qualidade do Grupo Anchieta, um dos maiores distribuidores de alimentos do Brasil.

     Entendi ser essencial registrar a essência do ser humano com seus valores morais e éticos, e que seria necessário refletir no livro as suas incansáveis lutas, sua permanente boa disposição ao trabalho e superação; que seria importante registrar a imagem de um homem responsável, honesto, íntegro, confiável, generoso, altruísta, caridoso, persistente, resiliente... registrar os traços da vida do homem dedicado à família, do homem de fé, essencialmente simples e eternamente grato à vida.

     Espero que os leitores sintam pelo menos um pouco desse homem nesse livro; que esse legado de exemplos de bem possa além de ser preservado para a família, também ser divulgado para  amigos e interessados.

     Que o livro Zé Tacinho – Muito além do empreendedor, perenize esse testemunho de que vale a pena ser do bem, fazer o bem, ser bom.

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Equipe

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               VIZINHOS

     Pensando em Zé Tacinho, me ocorreu que não é bom negócio permitir longas distâncias entre certas pessoas e que o melhor é deixar a emoção falar mais alto, pois é papel dela e das lembranças revelar o que o tempo guarda. 

     Pois então eu vou de emoção no talo, falando de mim para falar de Zé Tacinho, e falando dele para falar do tempo, este sujeito invisível que sempre guarda muito mais coisas do que a gente acha que guardou. Aliás, se eu escrevesse um livro, ele teria três páginas. Duas delas seriam escritas depois da terceira, que é a da maturidade. Quando eu fosse às páginas daminha infância e adolescência na nossa São Domingos do Prata, aí entraria Zé Tacinho, o meu vizinho que este livro homenageia.  Porque aqueles momentos foram os cartórios para os meus registros

 cujo tabelião foi a antiga Rua Louis Ensch do anos 1960, hoje Lúcio Monteiro. Tudo está lá, com firmas reconhecidas em ficha que dura para sempre. Importante lembrar que os meus cartórios registraram, sim, o substantivo próprio José Maria Fernandes, mas apenas para as formalidades. O tabelião da década de 1960 registrou Zé Tacinho para as lembranças, para a nossa rua, para mim.

     Pois este Zé Tacinho subia e descia a rua distribuindo cara boa para a meninada toda, eu naquele meio. Como o pai dele, o maestro Tacinho, Zé Tacinho também chamava o meu pai de Beethoven. Com perdão da metáfora, bastaram dois tacinhos para a grande taça onde comecei a provar música. E ambos davam moral ao menino que fui, menino sem violão que aprendia a tocar no violão verde de André Fernandes, filho de um Tacinho e irmão mais novode outro, um André que, como é natural na família Fernandes, viverá guardando um músico em si.

     E faça calor ou frio, corra a água no rego ou no rio, apague o lampião ou acenda o farol, toque o bumbo ou o tarol, cante o canário ou o tiziu, toque o sino ou toque o cincerro, esta história não tem erro: o que aconteceu naqueles anos está na minha caminhada. Que ia das caras boas de Zé Tacinho passando pelo campinho de Dona Ruth, descia a escadaria do Rosário com medo de olhar pra trás, fazia genuflexão ante a Matriz antiga, batia na porta de Saiana, corria o adro entre as palmeiras, ouvia o sax de Sô Pelágio no coreto, fazia primeira comunhão no adro, olhava as pedras no alpendre de Zé Tinduca, fazia catecismo com Dona Naná, tomava um guaraná e comia um pastel no Hotel Semião, chupava o melhor picolé de coco queimado do mundo às custas de Zé do Bar, voltava pelo comprido morro de Zé Barbudinho, descia o morro de Dona Titina e voltava pra nossa esquina com a garantia de um gracejo afetuoso de Zé Tacinho.

      Nos nossos anos 1960, vi a perda do pequenino Paulinho, na casa colada na nossa, e que transtornou a todos; vi Stella Maris chorando pelo menino que mal chegava ao mundo e dele estava sendo subtraído.

      Vi quando Zé Tacinho e Heloísa deixaram aquela casa e se mudaram para uma que era do promotor Bernardo Mascarenhas e de Dona Doroca. Resultou disto um grave prejuízo à minha infância: tal mudança causou a extinção do nosso delito de canavial, crime que consistia em capturar à sorrelfa macias canas caianas no quintal do promotor para furtivo consumo atrás da moita, sempre com um olho nos gomos e outro em Dona Gadinha e Sô Geraldo Santiago. De repente, como continuar a prática daquele delito de cana caiana no quintal que agora tinha como novo dono ninguém menos do que o filho do meu professor de música e, ainda por cima, boa praça com a gente?

      Em Belo Horizonte, quando a hora impôs a Sô Tacinho o cumprimento do seu tempo na Terra, eu ouvi de Zé Tacinho: aí vai o seu professor de música, mas não é o fim das coisas, é o anúncio de outras.

      Numa recente visita a Dona Rita-mãe-de-Buda, vendo Dona Albertina, cujos 100 anos de vida lhe impunham a imobilidade física seguida de breves clarões por onde umas últimas e poucas coisas do mundo brilhavam umas poucas vezes mais, tive duas sortes: a primeira foi que Dona Albertina percebeu a minha presença fazendo um breve movimento com os seus olhos arriados e já entregues ao principal propósito da vida, que é encerrar-se gloriosamente; a segunda foi a aparição inesperada e risonha e bem-humorada de um mesmíssimo Zé Tacinho, cujo tratamento para com o menino que tocava no violão verde de André não mudara um milímetro pra lá nem pra cá.

      Mas não vi o movimento recente, quando Zé Tacinho e Marlene mudaram-se da casa do quintal dos meus delitos de canavial para morar ali no alto com vistas para o Catuny e para a pedra-monumento que os olhos buscam lááá nas Palmeiras, na fenda funda entre dois morros de onde se vê a gigante e bela obra da natureza, uma enormidade que enche os olhos de quem a percebe.

      O fato de eu ter perdido este movimento recente nada encerra. Baste-nos, a mim e a Zé Tacinho, um momento reservado que nos permita tomar, com calma, dois goles de uma amizade que olha para trás enquanto o passado nos ajuda a nos entender com o que sempre está à nossa frente. 

      Chegando aos dias deste 2023, menino que ainda posso ser, continuo saudando o vizinho filho do meu professor de música. E seja a que distância estejamos um do outro, estes vizinhos já avisam que não dispensam a mútua admiração.

      sigamos, Zé Tacinho, tocando a vida até quando a música for servida, e com a mesmíssima cara boa que a minha infância guardou e que a maturidade não deixa apagar.

Belo Horizonte - março 2023

Lançamentos

Repercussões

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